Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Trechos de Frida


"...if I stay in one place I lose my mind
I'm a pretty impossible lady to be with
I sang along while I was swinging
the sound of our voices made us forget everything
that had ever hurt our feelings
I've got one hand on the steering wheel
one waving out the window..."


Vários são os medos que me possuem...
Tenho medo dos meus pensamentos... Dos meus pés... Às vezes a cabeça não agüenta.
Tenho medo de ser covarde, de me arrepender de não realizar algo que eu quis com muita força, somente por falta de coragem pra enfrentá-la depois... Medo do que podia ter sido e não foi.
Medo de ser sozinha ou ser infeliz... E de me sentir vazia ou de endurecer com o tempo.
Muitos medos e muitas certezas... Sou jovem!


Tem horas que me sinto fora do mundo. Parece que não me encaixo nessa minha vida. Talvez eu tenha vindo de algum cometa ou de algum asteróide bem pequeno... há pessoas que afirmam que o meu universo íntimo e minha visão da vida são tão minúsculos que nem eu mesma. Apesar disso eu tenho certo fascínio com o infinito.Penso que só posso conquistá-lo quando morrer...e as vezes eu espero por isso.


São os olhos que de tão densos, me puxam mar adentro, me arrastam pro fundo de um oceano revolto de sensações que ainda desconheço o nome.
Talvez seja uma pena que sentimentos não possam ser abortados... Talvez seja uma glória.
São desejos que me são vagos e confundem-se,torturando-me a existência.
E é nesse turbilhão de sinestesias, mutações em meu corpo inteiro, que eu já nem me habito mais, e me perco...
Tarde demais!


“_As pessoas são cegas ", assim você me disse no dia em que me ensinou a enxergar.
Sinto apagões de novo, escuridão seguida de uma sanidade lúcida e assustadora.
Estou com medo...
E minha vida?Está aqui em meus dedos, mas não sei o que fazer com ela... Esse poder é tão perigoso...
O mundo é só... E não vive só de fantasias e preciso ser forte o bastante para suportar verdades como essa. E o todo é hipócrita, e tem medo de sentir a imperfeição, os próprios erros... E por isso julga.
Preciso dos teus ouvidos... E dos olhos... E de tudo que não volta.


Você não sabe o que eu quero... e se soubesse nem entenderia. Só não fale do que não conheça e não me julgue mal. Certamente você nunca entende meus atos e nem entenderá.
Na maioria das vezes nem eu consigo. E não posso lhe oferecer explicações que não possuo. E não é sempre que traduzo meus sentimentos... Não tenho o teu bom senso... Nem mesmo gosto de bom senso!

Frida

sábado, 13 de dezembro de 2008

Encontro (Homenagem a meu amigo Felipe Godoy)


(Desenho de Felipe)
"...Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito,
Caráter, bondade, alegria e amor..."


Talvez ela só quisesse ser compreendida pelo mundo. E que a notassem pelo que ela é e não pelo que ela parece ser.
Talvez ele só desejasse que alguém entendesse seus sonhos mais estranhos. E que o apoiasse na sua eterna busca do sentido plausível da vida.
Talvez ela apenas precisasse de alguém que a fizesse sorrir das coisas que aparentemente não tem graça, alguém que a mostrasse como a simplicidade pode ser única e feliz. E que nem tudo necessariamente tem que ser sério.
Talvez ele apenas esperasse alguém que cantasse músicas com ele e que o lembrasse caso ele esquecesse suas letras, alguém que lhe escrevesse cartas enormes que nunca conseguiria enviar. Alguém que notasse seus medos e admirasse toda sua arte de ser quase surreal.
Talvez eles apenas aguardassem toda suas insignificantes existências de perguntas para um dia se esbarrarem sem querer e aos poucos irem respondendo um aos outro como se finalmente estivessem conhecendo a si mesmos.
Talvez eles necessitassem urgentemente de profundidade e sensibilidade do espaço que os cercava. E quem sabe o que eles queriam mesmo durante a vida toda fosse algo chamado amizade?
Amigos estes que reconhecessem seus cabelos coloridos, seus anseios e partilhassem da felicidade resguardada tanto tempo para em um só ano ser dividida com tanto fervor.
E quem sabe eles assim que se olhassem iriam se reconhecer como dois seres que esperam incessantemente viver de uma forma tão grandiosa que o medo era inevitável.
Talvez eles precisassem apenas se encontrar.
E depois que se encontrassem, ela sempre se lembraria dele quando se deparasse com blusas feitas a mao, desenhos, pinturas, músicas e qualquer outra coisa que demonstrasse delicadeza e intensidade...
...E depois desse encontro, ele se lembraria sempre de bailarinas, de poemas, das milhares de gotinhas de mar que ela tinha mania de deixar rolar, de nomes de frutas que ela gostava de se identificar.
E que eles pensassem em amizade cada vez que olhassem para seus lápis coloridos e encontrassem as cores ROXA e VERMELHO.
E no final de tudo finalmente descobrissem que se tudo isso acontecesse num ano somente, seria impossível que se perdessem na vida novamente.E que estariam ligados pra sempre mesmo que só nas recordações nostálgicas do coração.
E que precisariam de milhões de anos que não possuíam para viver tudo aquilo que mereciam viver do lado do outro...
...Mas que com certeza aproveitariam ao máximo o tempo insuficiente que a vida desse pra eles.


Eu te adoro.
E nem imagino como seria minha vida sem você nesses dias de hoje.
Espero estar sempre ao teu lado pra apertar suas mãos mágicas quando precisarmos delas.
Abraço apertado da Tangerina que tem cheiro de Pimenta para o Vaga lume que tem o brilho de toda a luz do mundo.

Frida

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Luta


"...Ouça-me bem amor,o mundo é um moinho.
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos.
Vai reduzir as ilusões a pó.
Preste atenção querida,
Em cada amor tu herdarás só o cinismo.
Quando notares estás à beira do abismo.
Abismo que cavastes com teus pés...'

Eu sangro. Posso sentir minha pulsaçao tao vacilante que chorar se torna um esforço cada vez maior. Muita dor. Desejo agora ser convulsa de lágrimas, mas bem sei que minha agonia não se escorre com elas. Sinto que não posso. Choro apático; sem vida; sem forças. E minha visão embaçada ja não enxerga a folha do papel imerso. Aliás, meus olhos sempre tão paradoxos parecem querer expor minhas contradições. Talvez me expondo assim, eles me façam enxergar verdades.
Por mais que as palavras se molhem desse pranto de assustadora apatia, eu vejo melhor. Agora estou fugindo desesperadamente dessa lucidez que vem coberta de desesperança. Tentando me adiar mais uma vez. Mais uma noite. Mas enquanto eu procuro inutilmente meu sono meio a cama tao pequena pras minhas revoluçoes, ela toma conta de minha alma vermelha.
Grito com veemencia buscando convence-la da minha certeza: Eu aprecio a ilusão e a solidão combina com meu corpo conformado. Ela nao cre. É insistente. Tampo os ouvidos violentamente para não ouvir sua réplica. Não funciona. A voz ja penetrou nas minhas artérias machucadas. E tenta incanssavelmente remendar os buracos existentes, mas eu insisto em querer sangrar.
Vejo agora sua expressao severa me dizendo que eu não presto para ser mártir. " Talvez voce até realize este teu secreto sonho de utopia, mas antes deverá aprender a ser forte. Pior que esta tua idiota compaixão pelos covardes é a pena que tu sentes de si mesma.". Abaixo meus olhos. Ela suplica pouco mais terna: " Se nao consegues se amar o suficiente, se nao tens amor próprio, que seja por ele. Que seja por este teu amor intocado que só faz mal a todos. Que seja por esse grande amor que eu sei que sentes."
Me encolho na cama cobrindo a cabeça com o lençol gelado. Não posso deixar que esta lucidez leve com ela as convicções de uma vida. Confio no meu amor. Ela se irrita:" A menina que resguarda uma fidelidade inútil e a levanta como uma bandeira. Estúpida. Que espécie de amor é este que te desgraça a existencia e faz dos teus dias melancólicos?".A resposta vem como uma reação espontanea.
É o amor meu. Amor que compreende inconstancia e indiferença assim como todos os defeitos inalteráveis. Sentimento de sublime conformidade. Amor que aceita sua infelicidade e recupera cada migalha desprezada.
Silencio. Eu venci. Venci no infinito escuro da noite que atravessa minha janela como meu contexto. Tranquilidade. Não existe mais olhos marejados. Tudo cessou. Só vitória amarga na boca. Neste cenário de aparente calmaria, ela reaparece. Meu decreto final. Agora uma lucidez serena, sábia. controlada. Seu sussuro: " Este teu amor que nunca se fez realidade, pequena mulher. Teu inexato amor idealizado.".
Muita dor sem água. Minha convulsao chega tardia e cansada. Desprezo minha ingenuidade quase infantil. Sussuro que vem anunciar o primeiro raio de sol quente que atravessa minha janela. Foi-se a madrugada molhada. O contexto. Minha amiga me olha com uma ternura fraterna. Me põe no colo, a criança desconsolada. E nao me pede pra que eu pare de chorar. Suas ultimas palavras definitivas: " A vida não é como os livros que tu les minha menina. Nem sempre aquilo tao sonhado chega lindo e belo no final. ". Eu durmo. Decreto final. Resplendor da manha.

Frida

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Preço


"...Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação
Longe de mim solto no ar
Livre para navegar indo para onde for..."

Frida olhou bem fundo nos seus olhos refletidos na parede espelhada. Olhos escarlate; insonia. Depois de desprender-se daquela imagem que a perturbava tanto, começou a rodopiar. Se imaginou mil vezes na cena que criara seu interior. Enquanto delirava, sentia a música invadindo todos os poros de seu íntimo, tocando-a no seu ventre de mulher angustiada. Os ignorantes desconhecem o extase sem o toque. Mas nao era preciso que ninguém a tocasse...a música fazia isso por ela. E cada vez mais nossa personagem se permitia invadir.
Entao se deixava embriagar e dentre seus devaneios, estava ela, liberta de si mesma, possuindo uma felicidade jamais experimentada pelos covardes. Era uma mulher que nao conhecia o medo do ser. E até mesmo em delírios como aquele, se conservava tao lúcida que podia perceber sua ilusao e se aproveitava dela para sobreviver. O que delimitava uma existencia tao interessante eram os outros e a aparencia que ela era obrigada a manter por amor. Mas a estima que ela cultivava por si, a cada instante se tornava imensamente maior que o amor que podava seus caprichos mais profundos. Frida nao era como as outras e se orgulhava disso. E gozava do poder de ser completa por minutos de prazer declarado.
Era completa em meio a multidao de infelizes. O público carente de alegrias verdadeiras. A esta altura, toda a sociedade ja se olhava perplexa com tantas intimidades reveladas. E a pequena dançava entre todos mas exclusa no seu mundo. E nada a fazia parar, nem os olhares. Se libertava em uma fantasia de menina que desabrocha em baile. E crescia...tornava-se grande. Os presentes no salao espelhado ja recriminavam a família da moça que nao podia frequentar tais recintos de respeito. E ja comentavam entre si horrorizados com tamanha obcenidade de espírito. As amigas da dançarina que ainda rodopiava, se aqueciam de vergonha arrependidas por expor a demencia da pobre. "A loucura é o mais terrivel destino dos homens.O pior dos males.". Era realmente inevitável que a cidade toda soubesse desta deprimente cena. " Depois desse dia, esta coitada nunca conseguirá resgatar sua moral tal falta de pudor que vem demonstrando." cochicham duas velhas carolas vestidas de preto.
Mal sabiam elas que o alvo de tantos comentários também concordava com as duas sobre este episódio impossível de ser esquecido. Ela nunca mais seria a mesma. O momento tao aguardado finalmente havia chegado. Ela nao precisava mais da sua sufocante ansiedade nem dos olhos escarlate. Frida agora era livre.

Frida

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Momento Final


"...E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
Minha aventura
Pra onde você foi?
Pra onde você vai?..."

Estou aqui me lembrando
Do instante que te encontrei dentro de mim
Eu fico aqui imaginando
A razão de a gente estar assim
Tão distante
Também me lembro dos meus olhos
Que você sabe, não paravam de mexer
A minha fuga e essa inquietude
Eram peças que faltavam pra que eu pudesse entender
Que estar ao seu lado já não basta
Agora já nem faz mais sentido
Ainda estou ouvindo
A tua voz aqui no meu ouvido
Amo tua forma de tornar meus dias desiguais
E essa nossa inconstância
Que tento a cada dia deixar pra trás
Adoro o seu sorriso
Que me faz tão menina e tão mulher
Talvez você nem pense
Mas estou aqui sonhando
Com nos dois de novo num espaço qualquer
E quando você arrumar meu cabelo
E novamente me deixar sem palavras
Vou aproveitar meu momento
E embarcar contigo em viagens piratas
Só não me deixe assim de repente...
Preciso encontrar minha saída
Sentimentos que afastam a gente
Apagar-te aos poucos da minha vida
Eu bem sei que não vai se lembrar
E eu nem quero ser so mais uma amiga
Você vem agora me tocar
Eu sei que teu momento é de partida!

Frida

" Confissao "


"...O que você não pode eu não vou te pedir
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Todos os dias eu venho ao mesmo lugar
O fogo ilumina muito
Por muito pouco tempo
Em muito pouco tempo o fogo apaga tudo
No início era um precipício
Depois virou um vício
Ontem à noite eu conheci uma guria..."

Daquele tempo eu ainda lembro bem
Por um segundo eu até acreditei
E eu que pensava ser impossível
Aceitar um futuro tão previsível
Eu senti a ilusão de ser especial
Decidi que deixaria tudo ser natural
E menti que assim como era no passado
Me bastaria apenas estar a teu lado
A forma que você me olhava
Me fez confiar meus segredos
Eu só quero que realmente se importe
Com minhas angústias e receios
Agora tudo vem a tona num instante
Mas suponho que seja um tanto tarde
Nesses dias que fugir já não basta
E nem suporto mais parecer covarde
Cada caminho por onde passo
Algo me arrasta de encontro aos teus olhos
Já nem imagino onde estás agora
Mas ainda tenho comigo
Pedacinhos teus na memória
Nosso jeito subentendido
As palavras que eu tanto ensaiei dizer
Teu dicionário original pro meu mundo
E a tua franca mania de me surpreender
Dias bons que se tornaram lembranças
A vida levou e não trouxe mais
Imagens da tua inconstância
Que não consigo deixar pra trás
Fecho os olhos e vejo melhor
Objetivos tão divergentes
Aquele cuidado que você fingia
Já não se mostra tão evidente
Sempre fui boa em teorias
Mas elas não ocupam esta ausência
Vontades reprimidas que não cessam
Nunca me dei bem com experiências
Neste momento estou pensando
Como o tempo contradiz a felicidade
Culpo-me por não te conhecer antes
E abomino teus passos errantes
Promessas não passam de ilusões
Só espero que não se esqueça do plano
Perdoe minhas contradições
Chegou a hora de dizer:Eu te amo!

Frida

Sou Um Ser Humano Que Sente


"...Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos que eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
Não estou bem certo, se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
De enxergar um novo dia
Daria tudo por um modo de esquecer
Meu mundo e nada mais..."






Ontem eu estava tranqüila....
..foi quando eu descobri novamente que eu nunca soube de nada e que isso vai se repetir muitas vezes na minha vida...
...foi quando eu percebi que não podemos nos doar totalmente ás pessoas sem conhecer realmente a pessoa pra quem nos doamos....
..e então eu entendi que palavras não significam muita coisa e que nem sempre sinceridade é recíproca....
..e descobri que pessoas fracas podem te ferir mais que alguém que você julgue mais forte que você...
...e entendi que muitas vezes a preocupação que o mundo tem não é pelo que você esta sentindo e sim pelo que pensa em fazer...
...e foi quando eu notei que sentimentos saem do nosso controle e quem nos ama o bastante vai saber quando apenas fingimos que estamos bem...
...percebi também que há sempre alguém que esta somente esperando o momento que você caia para vir se deitar contigo e depois te ajudar a levantar de novo...
...foi quando eu notei que existem pessoas mais egoístas que eu...e que eu não sou o ser mais mesquinho do mundo...
...e anotei nos meus cadernos que perder o sono não é uma bom sinal e chorar as vezes faz até bem...
...entendi que ha momentos que os tempos são necessários...
...e percebi que aparência não diz quase nada e que estranhos são aqueles que te fazem sangrar...
...e assumi mesmo não querendo que encontrar desculpas pra atos que nos fazem sofrer não vai diminuir nossa dor...
...e notei que no final a gente sempre acaba tendo que assumir verdades que direcionam nossa vida por mais que isso doa muito...
Foi quando minha tranqüilidade passou...
...e quando eu descobri meus amigos...

Frida

Ausencia


"...Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas..."

Ela abriu os olhos. Por um momento acreditou que sua vida toda fosse um sonho patético de alguém que fosse imenso e desejasse o mesquinho. Mas ela não sentia sua imensidão. Pousou os olhos ainda confusos sobre as roupas sujas no canto do quarto. Ela era verdade. Seu vazio era verdade. Seu tormento era verdade. Ela estava ali. E era real, por mais que isso a fizesse sofrer.
Sorri. Sorriso demente. Sorriso de quem procura enganar talvez as paredes ou as roupas que ainda exalam aquele cheiro. Não. O cheiro vem dela. Ela perdeu ate o seu próprio cheiro individual. Ela era o perfume dele. Por toda parte. E por toda parte o sentia. E podia até o ver entrando agora pela porta da sala, rindo de suas inseguranças, ouvindo os lamentos do dia-a-dia, o seu cansaço. Ela o sentia ali, olhando pras luzes de Natal e buscando os comprimidos dela na gaveta do armário.
A primeira gota de mar veio arder seus lábios mordidos. É como se lhe esfregassem a angústia na face coberta de falta. Falta que grita no seu corpo inteiro como se fosse uma necessidade. Então pensa que não ha como precisar tanto de algo que um dia não possuiu. Mas por mais que ela repita esta falácia para si mesma, a dor não passa.A falta ainda está ali...Acomodada,intensa,vazia.Nessa hora ela se lembra que a cozinha está desarrumada,o chão está sujo e os moveis empoeirados.E olhando pra fora do quarto,olhando pela porta que ele deixou entreaberta quando saiu,ela vê.Vê que a casa toda remete a solidão da sua alma.Remete a ausencia,a nostalgia,a lembrança que mais se parece presente de tão viva que é.
Pensa em fugir de casa. Ir embora, deixá-lo preocupado. Mas se da conta que agora a casa é só dela e que já não tem ninguém que sinta sua falta. ”A vida vai estar do jeito que você deixou. Sempre. Porque eu sei que vai voltar. E eu vou estar com a casa enfeitada de luzes de Natal.E vai me abraçar como se eu fosse criança pra depois me tocar como mulher. Assim como era antes. Assim como foi todo esse tempo.”. Pensamento infantil. Ela sabe que nada vai ser como fora um dia. Ela sabe que não haverá volta dessa vez. O amor acabou. O dele que era sufocado pelo amor dela. Amor este que era reprimido pelo sentimento de incondicional resignação de não ser correspondido à altura. Ele não suportava mais dever amor.

Frida