Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

terça-feira, 31 de março de 2009

Amor?


"...Com a mesma falta de vergonha na cara
Eu procurava alento no seu último vestígio
O território, da sua presença
Que eu não posso deixar que me abandone
E é voce do outro lado devolvendo minha insônia
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura..."

Minha calma aparente;
Mascara um medo recente;
Foi-se embora meu calor.
Se o mundo parece incompleto;
Agora que tudo está tão certo;
Meus olhos revelam temor.
E a minha felicidade?
Contento-me com a saudade;
Seja do errado que for.
Uma lembrança eu queria;
Da imensidão que eu fora um dia;
Uma chance de repor.
Atos viram violência;
Meu alento pra ausência.
Vejo doce sem sabor.
Vergonha de um sentimento;
Que me ultraja por dentro;
Entrega-me em rubor.
Minha vida então carmim;
Fez-se branca neve no fim;
Um alguém que furta cor.
Diz que o tempo cura a mágoa;
E traz de volta minha água;
Com ela renascer em flor.
Mil segundos de ternura;
Resta hoje uma amargura;
Tantos meses de torpor.
O que eu faço com as canções;
Se ao invés de emoções;
Eu só sinto minha dor?
A vontade que me falta;
De seguir sem tantas voltas;
E me trai com tal revolta;
Amor!

Frida

domingo, 22 de março de 2009

Letargia.


"...Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um aviao...'

Vício.
Hábito.
Doença.
Compulsao.
Devolvendo a minha insônia, minha apatia acomodada.
Dissolvendo o doce dos meus olhos em mar.
Gotinhas de mar sem som.
Sabor amargo do mar.
Sentimento de perda de um mar interior.
Solidão no meio do tudo.
Sensação incoerente de nada.
Saudade insuportável do que não foi.
Lembranças do que eu não vivi.
Como se fosse possível escolher um caminho.
Como se eu tivesse um caminho pra escolher.
E o imaginário me faz sorrir.
Tudo o que não existe me faz bem.
Talvez porque acreditando cegamente no que inexiste não há o risco ao erro.
Não há o risco de desabamento de convicções.
Simplesmente porque não é. Não existe.
Não me envolver com o que é real, apaga minhas possibilidades de sofrer com ele.
Minha imaginação não me abandona.
Não me faz sofrer.
Protege-me de duras verdades.
Oferece-me o direito a idealização.
Imaginar meus sonhos.
E materializar estes em meus delírios solitários.
Eu desejo a solidão.
Para poder delirar sem medo.
Não medo do ridículo, mas medo de que me convençam da ausência da minha sanidade.
Horrível pensar que vão me tirar isso também.
Arrancar-me o prazer dos meus devaneios.
Não confunda isto com demência.
É minha fuga pra o que não passa.
Minha forma de não ver.
É simples até. O plano. Só me envolver neles.
Meus protetores. Livros.
Manter a realidade sem me tocar.
Vou sorrir agora.
Meu mundo me chama.
Meu mundo que não existe nem é real.
Por isso fecho-me.
Gosto de mundos inventados.
Estou levantando de novo as paredes do mundo que foi soprado. Caiu.
Tentando descobrir como construir paredes mais fortes.
Muralhas quem sabe. Estou sendo pretensiosa novamente.
Como se eu já não soubesse que sou eu quem abre as portas do meu castelo seguro.
Quando consigo manter meu castelo rígido, eu me deixo enganar.
Ouço a voz de quem bate na minha porta. E abro com uma inocência infantil.
Cavalo de tróia.
É a realidade vindo me buscar.
Vindo derrubar toda a estrutura de pedra fria.
Vindo iluminar meu lar escuro, frio e seguro.
O sol forte e perigoso me cegando de dor.
Sempre amei a noite. De dia eu fecho as cortinas.
Talvez o mais seguro seja levantar um castelo sem portas.
Ou trancá-las. Uma a uma.
Não importa-me a grama verde lá fora.
Não quaro saber da vida, a natureza que seduz sem piedade alguma.
Estou trancada agora.
Eu, comigo.
Sozinha.
Não tentem abrir.
As chaves já não estão comigo.
Não me lembro onde eu as escondi.
Nem me esforço pra lembrar.
Estou segura em mim mesma.
Com meu imaginário, meu delírio.
Só o inventado distrai-me e só ele eu deixo estar comigo aqui dentro.
Não se preocupem, pois dele não provem o perigo.
A insanidade combina com meu castelo construído.
Decora minhas paredes vazias. Meus passivos personagens preenchem os aposentos vazios.
Deixem-me aqui dentro.
Ajudem-me a afastar a realidade de mim.
Não quero ver o sol. Tremo só de pensar em tudo que é exterior.
A dor me ameaçando. Colada na porta.
Aguardando-me. Fria, objetiva, real.
Espasmos de desespero me invadem só de lembrar dela.
Vai embora. Eu não vou abrir.
Estou escondida. Nada vai me encontrar em lugar nenhum.
Sou invisível. Deixe-me dormir de novo.
Sem a maldição de acordar me lembrando. Sem a maldição da lembrança que me tira o ar.
Traga-me a tranqüilidade da fantasia. Minha paz.
Já chega. Não consigo suportar sozinha.
Nao me tomem meus livros. Onde estao minhas histórias?
Eu posso sentir voces. Quero sua presença.
Que cabeça a minha. Ninguém os escondeu.
Estao no baú.
Paz.
Minha ameaça nao compete com eles. Foi embora.
Toda hora. Hora de ler.

Frida

segunda-feira, 9 de março de 2009

Reconstruçao (Carta)


"...Nada ficou no lugar
Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu rosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu ja arranhei os seus discos
Eu vou publicar seus segredos
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria..."

Vontade de dormir pra sempre. Perder-me sem pensar. Algum tipo de fuga. Como se eu quisesse preencher meus dias de rotina para não notar as transparências da minha vida. Para não me encontrar com suas mentiras. Esta indiferença que você levanta como essência e que faz mal a todos que o cercam. É que eu não conheço o medo de me expor.
Nessa hora que percebo que a felicidade deve realmente ser aproveitada até o ultimo gole. Quero ser bêbada de felicidade plena novamente, talvez por isso tenha tanta vontade de ser bêbada. Momentos de satisfação completa são raros. Então me dou conta que tudo se transforma tão rapidamente e fico tonta. Planos que são apenas brincadeiras minhas. Talvez planejar certo tempo com alguém faça o mesmo estrago que negar seu nome pra si mesmo. Odeio planos. Odeio fazer planos, odeio meus planos e sempre os faço.
Difícil é me lembrar de tudo que acreditei. Como se acreditar não valesse a pena nunca. É que eu já vivi tantas provas disso. Tentar desesperadamente não endurecer com a vida é uma tarefa realmente difícil. Mas eu consigo com uma pequena ajuda dos meus amigos. À medida que passa o tempo vou limpando toda a sujeira que ficou. Talvez até errando para deixar tudo claro outra vez. Se é que em algum dia houve clareza meio as suas falsas verdades. Vou errando para te fazer melhor. Fazendo-me pior para que você possa ser melhor. Novamente. Eu falhei antes porque não entendi que não se melhora ninguém encobrindo seus defeitos ou justificando seus erros. As falhas precisam ser mostradas para que possamos senti-las como carne viva. A verdade cura. E outra verdade é que eu sempre te julgo melhor do que realmente você é. Isso me faz sofrer menos. Já não tenho nó na garganta e parece que o tempo me secou.
Não demora muito que essa minha indignação se dissolva em tudo de bom que acredito que tenho aqui dentro. Esta minha raiva que me tira a voz. O incrível é que por mais que esses últimos tempos de escuridão tenham me cegado e me deixado uma descrença imensa no meu peito, as fantasias ninguém conseguiu me tirar. Elas ainda estão lá, firmes, nas músicas sobre minha vida. Posso senti-las agora. São nos dias de noites profundas é que percebemos os vaga-lumes que norteiam nossas vidas, aquele alicerce que sustenta nosso edifício, os que sonham por nós quando nossos sonhos acabam. Estes que são produtores de sonhos agora que faltam os meus. É quando eu sinto uma forte certeza que o amor existe sim. Pois eu os amo e eles me amam. Eu posso sentir também. Isso faz bem. Não é um amor dito por palavras estranhas. Nem precisa ser dito de tão intenso que é. Não é uma doença minha. É o amor que faz bem e não apaga nossa luz própria. Desconheço esse sentimento que se finge de amor e nos reduz a nada, nos faz sem brilho, sem cor e sem encanto algum. Agora já começo a reencontrar meu encanto. E minha raiva se transforma cada dia mais em pena daqueles que não conseguem amar outro alguém além dele mesmo. É triste a incapacidade de sentir outra pessoa e se fazer bem através dela. Patética a incapacidade de doar felicidade e recebê-la de volta em cada descoberta nova e sorriso compartilhado.
Mas ainda não é o fim. Eu necessito da verdade para dormir bem. Preciso me envolver nela. Ver de olhos novos que sou suficientemente grande para deixar marcas. Eu vou deixar marcas. Talvez seja algum tipo de vingança. Prefiro fantasiar que é um direito, ou justiça como preferir. Sim, porque minha vida é uma fantasia como ja foi dito antes. É esse o meu motivo pra quem perguntar depois sobre minha história. Eu não sou assim. Só estou doente e tento minha cura. Vomito diariamente o que eu não posso apagar. Aprecio os rascunhos, mas a hora é de passar a limpo.

Frida