Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Caso



"...Abrindo as portas pro seu elefante branco entrar
Contando as desformes formas que tenho pra estar
Quem sou que não mais quer ser pincel pra pintar
As coisas estranhas que penso e sou mais tarde
E as tantas histórias que empilham palavras na estante..."

Então um dia ela o beijou
Interrompeu uma fala comedida
E pediu pra que ficasse um tempo a mais
Ela já não era imprecisa
Como fora há um tempo atrás

Ele disse: “Só queria te ouvir.”
E tremia ao telefone
Ela o disse em baixo tom
Que ele a fazia sorrir
Quando transmutava seu pequeno nome

Ele a pintava da coragem
Que acreditava que ela tinha
E tímido confessava ter medos
Ouvindo inúmeras bobagens
O temer dela em ser sozinha
Quando ela chorando, assumia seus defeitos

Ele quis fazer de tudo um pouco
Ela ria e ele se achava bobo
Pensou em gritar pro mundo todo
Nem teve medo de ficar rouco

Viver parecia tão fácil
Quando ele ouvia suas desventuras
Ela sentia tanto detalhe seu reparado
E narrava sua falta de tédio
Como num dia um tanto quanto desastrado
Disse a ela numa sinceridade sem remédio
“Posso dizer que estou apaixonado!”

Frida

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Praças



"...And the feeling that its all a lot of oysters, but no pearls
I am so ambitious for a juvenile
Cuz I like to be gone most of the time
If I stay in one place I lose my mind
I'm a pretty impossible lady to be with
I have trouble acting normal when I am nervous..."


Desejo as folhas caídas
Tons de verde remetem a vida
Não suporto esta cor

Quero mortas as flores
Quero folhas mortas

Expostas pessoas, sorrindo
Mascaram nas faces
Nossa busca por resposta

Tal ausência de perguntas
Comodidade, carência
Nesse mundo-banalidade

Sons de chaves batendo
Diálogos superficiais
E estas flores ainda crescendo
Impessoais nomes, vazios
Daqueles que marcham iguais

Gente que anda, carros com pressa
Aprisiona-se em pedaladas
As bicicletas condicionadas
Tantas mentes vagas se atrofiam
Com propagandas, falsas gargalhadas

Passos uniforme, disparados
Anúncios, chaves, carros
Sons devidamente sincronizados

Melodia assoviada
Chaves que batem na calçada
E na calça do senhor

Verde claro, verde pinho, verde musgo, verde
Eu não suporto mais essa cor
Aquarela minha e individual
Escuros, preto, o meu vermelho
Violetas que voam das pontinhas dos meus cabelos

Movimento, som, movimento
Avulsas palavras, soluços convulsos
Carros que rodam esmagando pensamentos
Chaves que batem violetas que voam
Rostos constantes, passos exaustos
Vacilantes
Harmonia irritante

Folhas nunca caem
Pessoas nunca calam
Imagens banais
Flores crescendo
Violetas voando
Fim de tardes naturais

Então deitada no largo banco
Num instante me levanto
Alguém diz: “Hey Bruxinha!“
E sorri.
Vejo e sinto as borboletas
Num lampejo de desejo
Meu sorriso e frenesi

“Bruxinha, Bruxinha!
Ruiva. Bruxa.”

E a voz me desconcerta
Um segundo e me desperta
E com pesar eu me despeço
De um sorriso desconexo

Procuro pesadas certezas
E olho em meio às violetas
Eu digo: “Shhh... Silencio!
Estás apenas na minha cabeça!”

Frida