Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Jornal




'...Mamãe quando eu crescer
eu quero ser rebelde,
Se conseguir licença
do meu broto e do patrão...'

Calço o All Star vermelho,
Bebo uma dose do mundo
No jornal.
Olho-me fundo no espelho,
Vejo só contradição.
Eu disfarço o egocentrismo,
Simulo um heroísmo,
Engano a solidão.
Levanto o muro de Berlim
Releio os manifestos:
Tenho dúvidas ou protestos?
Desejo um teorema que destrua esse dilema,
Algo de palpável fim.
Minto que eu temo
Pelo vício do futuro:
Ganância, fome, falta de esperança,
Palavras de cunho social.
São só lapsos de exagero
Frutos do meu destempero,
Tal e coisa, natural.
Sou um prédio de egoísmo,
Alicerce de fraqueza,
Fortaleza é a tinta
Que mascarei a construção.
Protejo-me com grossas cortinas
Panos vermelhos de sangue e de ferro?
Os fantasmas eu desenterro
Nunca peço perdão.
São cortinas os meus cabelos,
Brilhantes panos:
Vermelhos.
Apagando os olhos fracos,
Escondendo a escuridão.
Tranco as portas do altruísmo,
O caminho é o abismo.
Só o eu é que interessa,
Liberto a mente dispersa,
Cubro-me de atenção.
Sou alguém bem desprezível
Diluída em comunismo
Moléculas de pretensão
Caráter amoral.
Como o alvo que critico
E os poemas que publico
Nas longas páginas
De Jornal.

Frida

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O sol



‘... Desenho toda a calçada,
Acaba o giz, tem tijolo de construção.
Eu rabisco o sol que a chuva apagou... ’
Renato Russo

Se o sol não levantar,
Eu o rabisco no chão.
Minha calçada está vazia,
É ausente o meu dia,
Estação de ventanias,
Minha preferida canção.

Se eu um dia eu vi o sol,
Ele se foi quando choveu.
A tal calçada eu desenho,
A aquarela eu já não tenho,
Aqueles filmes eu resenho,
Relembro o sol que era meu.

Mesmo que o céu escureça,
E de mim esse sol se esqueça,
Eu rabisco outra vez.

Sinto o sol se apagando,
O mau tempo vem chegando,
O verão me refez.

O meu sol já vai embora,
E me pede pra deixar?
Se não vejo a aurora,
Já nem posso brincar lá fora,
Então volto a rabiscar.

O Renato me sorri.
A canção chega ao seu fim.
Ele diz que é sempre assim:
Eu desenhando, ele a cantar.

Frida.