Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Inocência


"...Perdi-me muitas vezes pelo mar
Com o ouvido cheio de flores recém cortadas
Com a língua cheia de amor e de agonia
Muitas vezes me perdi pelo mar
Como me perco no coraçao de alguns meninos
E ignorante da água venho buscando uma morte de luz que me consuma...'

Mais uma volta pela sala. Três horas da manha. O tempo parecia maior. Mais longos são os segundos ás três da manha. Caminha pela casa toda como numa metódica obrigação. Passos pesados, precisos. Súbito acréscimo de raiva por si mesma. Explicável. Raiva da sua insegurança de mulher comum. Sim, porque ela lutava pra não ser comum imbecil e sentimental como todas as outras. Mas ela também era. Com maior ou menor intensidade sempre são. Todas. Uma maldição aprisionada: natureza. Afronta ao que ela determina ser força as três da manha. A própria hora lhe remete a fraqueza.
Em seu egocentrismo infantil ela se achava diferente. E a madrugada vinha lhe impor o padrão feminino que ela tanto evitava. E teu orgulho tão recentemente ferido insinuava regurgitar a indignação dentro do estomago vazio. Ânsias de vômitos. Vomitar a insegurança insuportável que se alojara em seu intimo. Havia perdido o controle a tanto tempo programado para ser sólido e inabalável. E caíra em clichê. Idiota. Agora era como tudo o que detestava: insegura, medrosa, convencional, mulher. Por mais que demonstrasse tranqüilidade pra se proteger do dia e que esforçasse indiferença nas palavras, não tinha mais remédio. Comprimido que aliviasse aquela sensação de humilhação e profunda dependência feminina. Dependência que ela jurava mil vezes nunca sentir e que criticava nas mulheres fracas.
Ela se julgava tão dura, tão livre de laços. Seu orgulho feminista não podia aceitar nunca depender de alguém pra sorrir, pra se sentir grande e única. Não podia suportar a real idéia de que simples gestos teriam a capacidade de mudar uma madrugada como aquela. Ela que era tão livre e dependente somente de si mesma. Este sempre fora o plano. Liberdade. E agora enxergava a ilusão que sempre alimentara de que somente a sociedade pode prender. Não era a sociedade que a prendia, no entanto. Estava presa por sentimentos que tentava aprender a controlar por vergonha. Sua regra era nunca deixar que alguém conquistasse o poder de prendê-la. Agora a nova regra era não deixar transparecer esse poder humilhante e perigoso. Mas por mais que o escondesse estava ali dentro dela torturando os pensamentos insanos que tanto desejava afastar de si.
A verdade. É só a madrugada vindo lhe mostrar a falha.

Frida

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Intimidade Revelada


"...Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não..."

Insinuo a expressão calculada
Em tuas mãos um cuidado macio
Respiração conjunta, agitada
Que provoca ensaiados arrepios
Em minha cintura por ti dedilhada

Teu frio controle comedido se perde
Frente aos meus lábios mordidos de criança
Enquanto testo novas brincadeiras
Segundos de passageira vingança
Do teu sopro quente na minha orelha

Medimos força sem nos tocar
Não!
Não é um instante de maldade
Meu olhar intenso
Tua aparente seriedade
Tentam incansáveis suportar mais tempo
Emoção inexperiente
Revelada intimidade

E finalmente o momento esperado
Metamorfose do meu corpo ao teu corpo colado
Somos um em um só interior
Minha língua se encontra com a tua
Te exponho meu segredo inundado em amor

Difícil é pra mim me expressar sem pincel
Te lembrar meu desejo: consumir sentimento
Pois de olhos fechados, tu me mostras o céu
E ainda agora indagas meu pensamento
Aqui está minha resposta em papel!

Frida