Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

domingo, 22 de março de 2009

Letargia.


"...Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um aviao...'

Vício.
Hábito.
Doença.
Compulsao.
Devolvendo a minha insônia, minha apatia acomodada.
Dissolvendo o doce dos meus olhos em mar.
Gotinhas de mar sem som.
Sabor amargo do mar.
Sentimento de perda de um mar interior.
Solidão no meio do tudo.
Sensação incoerente de nada.
Saudade insuportável do que não foi.
Lembranças do que eu não vivi.
Como se fosse possível escolher um caminho.
Como se eu tivesse um caminho pra escolher.
E o imaginário me faz sorrir.
Tudo o que não existe me faz bem.
Talvez porque acreditando cegamente no que inexiste não há o risco ao erro.
Não há o risco de desabamento de convicções.
Simplesmente porque não é. Não existe.
Não me envolver com o que é real, apaga minhas possibilidades de sofrer com ele.
Minha imaginação não me abandona.
Não me faz sofrer.
Protege-me de duras verdades.
Oferece-me o direito a idealização.
Imaginar meus sonhos.
E materializar estes em meus delírios solitários.
Eu desejo a solidão.
Para poder delirar sem medo.
Não medo do ridículo, mas medo de que me convençam da ausência da minha sanidade.
Horrível pensar que vão me tirar isso também.
Arrancar-me o prazer dos meus devaneios.
Não confunda isto com demência.
É minha fuga pra o que não passa.
Minha forma de não ver.
É simples até. O plano. Só me envolver neles.
Meus protetores. Livros.
Manter a realidade sem me tocar.
Vou sorrir agora.
Meu mundo me chama.
Meu mundo que não existe nem é real.
Por isso fecho-me.
Gosto de mundos inventados.
Estou levantando de novo as paredes do mundo que foi soprado. Caiu.
Tentando descobrir como construir paredes mais fortes.
Muralhas quem sabe. Estou sendo pretensiosa novamente.
Como se eu já não soubesse que sou eu quem abre as portas do meu castelo seguro.
Quando consigo manter meu castelo rígido, eu me deixo enganar.
Ouço a voz de quem bate na minha porta. E abro com uma inocência infantil.
Cavalo de tróia.
É a realidade vindo me buscar.
Vindo derrubar toda a estrutura de pedra fria.
Vindo iluminar meu lar escuro, frio e seguro.
O sol forte e perigoso me cegando de dor.
Sempre amei a noite. De dia eu fecho as cortinas.
Talvez o mais seguro seja levantar um castelo sem portas.
Ou trancá-las. Uma a uma.
Não importa-me a grama verde lá fora.
Não quaro saber da vida, a natureza que seduz sem piedade alguma.
Estou trancada agora.
Eu, comigo.
Sozinha.
Não tentem abrir.
As chaves já não estão comigo.
Não me lembro onde eu as escondi.
Nem me esforço pra lembrar.
Estou segura em mim mesma.
Com meu imaginário, meu delírio.
Só o inventado distrai-me e só ele eu deixo estar comigo aqui dentro.
Não se preocupem, pois dele não provem o perigo.
A insanidade combina com meu castelo construído.
Decora minhas paredes vazias. Meus passivos personagens preenchem os aposentos vazios.
Deixem-me aqui dentro.
Ajudem-me a afastar a realidade de mim.
Não quero ver o sol. Tremo só de pensar em tudo que é exterior.
A dor me ameaçando. Colada na porta.
Aguardando-me. Fria, objetiva, real.
Espasmos de desespero me invadem só de lembrar dela.
Vai embora. Eu não vou abrir.
Estou escondida. Nada vai me encontrar em lugar nenhum.
Sou invisível. Deixe-me dormir de novo.
Sem a maldição de acordar me lembrando. Sem a maldição da lembrança que me tira o ar.
Traga-me a tranqüilidade da fantasia. Minha paz.
Já chega. Não consigo suportar sozinha.
Nao me tomem meus livros. Onde estao minhas histórias?
Eu posso sentir voces. Quero sua presença.
Que cabeça a minha. Ninguém os escondeu.
Estao no baú.
Paz.
Minha ameaça nao compete com eles. Foi embora.
Toda hora. Hora de ler.

Frida

3 comentários:

  1. tá.
    o que tenho a dizer é que às vezes pensamos muito no futuro, e acabamos nos perdendo do presente.
    ah, sabe, é como aquela música diz, que é preciso amar como se não houvesse amanhã, foi a dica de quem sabia das coisas, mas agora eu pergunto. quem é que segue isso? é difícil, amar como se não houvesse amanhã? se hj vou dormir, no instante em que minha cabeça encosta no travesseiro eu penso no que farei amanhã, quando acordar, e todos os afazeres do dia. Não tem como. Fomos viciados! Somos viciados. Fomos estragados., paredes vazias? eu me proponho à pintalas, tá (?) e farei isso quando for possível. por falar em paredes, pintei uma parede do meu quarto essa semana, escolhi a cor vermelha,....nem parece que faz um ano que te conheço. parece que tem muito mais tempo. lá vem o tempo de novo. bem, o que quero dizer é que ler sempre é bom. vocÊ com seus livros eu cá com meus filmes, hj assisti "Olga" me lembrei muito de vocÊ. é isso, um forte abraço. bj

    http://garfosemdentes.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. a realidade que sempre é fato me incomoda. Mas me incomoda mais ainda saber que pelo menos uma vez ao dia eu tenho que fazer parte dela. O melhor mesmo é me trancafiar com meus amigos imaginários, são eles que não me dexara sofrer, são eles que tiram de mim os melhores sorrisos e talvez as melhores histórias. Receio de sofrer, receio de ser tocada, receio da realidade.

    Voltarei mais vezes com certeza.
    Vai no meu quado der
    www.tantofazcomofaz.blogspot.com

    bejo

    ResponderExcluir
  3. Pode ter trancado as portas, mas eu estou do lado de fora espeando você querer abrir alguma delas pra mim. Sempre.
    Eu também to triste, e to preocupada com você, mas é como você mesma me falou: Eu não te faria bem agora.
    Te amo.

    ResponderExcluir