Anoitece e Frida vem reclamar meu ser. Me invade sem respeito nem cuidado e me revira por dentro. São estes os dias que me empresto a ela.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Preço


"...Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação
Longe de mim solto no ar
Livre para navegar indo para onde for..."

Frida olhou bem fundo nos seus olhos refletidos na parede espelhada. Olhos escarlate; insonia. Depois de desprender-se daquela imagem que a perturbava tanto, começou a rodopiar. Se imaginou mil vezes na cena que criara seu interior. Enquanto delirava, sentia a música invadindo todos os poros de seu íntimo, tocando-a no seu ventre de mulher angustiada. Os ignorantes desconhecem o extase sem o toque. Mas nao era preciso que ninguém a tocasse...a música fazia isso por ela. E cada vez mais nossa personagem se permitia invadir.
Entao se deixava embriagar e dentre seus devaneios, estava ela, liberta de si mesma, possuindo uma felicidade jamais experimentada pelos covardes. Era uma mulher que nao conhecia o medo do ser. E até mesmo em delírios como aquele, se conservava tao lúcida que podia perceber sua ilusao e se aproveitava dela para sobreviver. O que delimitava uma existencia tao interessante eram os outros e a aparencia que ela era obrigada a manter por amor. Mas a estima que ela cultivava por si, a cada instante se tornava imensamente maior que o amor que podava seus caprichos mais profundos. Frida nao era como as outras e se orgulhava disso. E gozava do poder de ser completa por minutos de prazer declarado.
Era completa em meio a multidao de infelizes. O público carente de alegrias verdadeiras. A esta altura, toda a sociedade ja se olhava perplexa com tantas intimidades reveladas. E a pequena dançava entre todos mas exclusa no seu mundo. E nada a fazia parar, nem os olhares. Se libertava em uma fantasia de menina que desabrocha em baile. E crescia...tornava-se grande. Os presentes no salao espelhado ja recriminavam a família da moça que nao podia frequentar tais recintos de respeito. E ja comentavam entre si horrorizados com tamanha obcenidade de espírito. As amigas da dançarina que ainda rodopiava, se aqueciam de vergonha arrependidas por expor a demencia da pobre. "A loucura é o mais terrivel destino dos homens.O pior dos males.". Era realmente inevitável que a cidade toda soubesse desta deprimente cena. " Depois desse dia, esta coitada nunca conseguirá resgatar sua moral tal falta de pudor que vem demonstrando." cochicham duas velhas carolas vestidas de preto.
Mal sabiam elas que o alvo de tantos comentários também concordava com as duas sobre este episódio impossível de ser esquecido. Ela nunca mais seria a mesma. O momento tao aguardado finalmente havia chegado. Ela nao precisava mais da sua sufocante ansiedade nem dos olhos escarlate. Frida agora era livre.

Frida

Um comentário:

  1. Any aqui.. post perfeito! uma mistura de conto absurdo com realidade indesejável! Parabénss pimenntinha! frase pra frida: a lucidez é um acesso de loucura ao contrário. xD

    vo visitar aki sempre,

    beijos :)

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